quinta-feira, 24 de junho de 2010

ALGUMAS REFLEXÕES DE FERNANDO PESSOA SOBRE A MAÇONARIA


Em seu Blog, http://www.sedentário.org/, Marcelo Delbébio aponta alguns textos de Fernando Pessoa, que fazem considerações sobre a maçonaria. Deldébio observa, pontualmente, que:
"para Fernando Pessoa, a Ordem Maçônica é uma ordem iniciática com uma doutrina esotérica específica, preparatória para outras vias.Para o poeta, o Templarismo é o prolongamento imediato da iniciação maçónica. Ora é sabido que os altos graus de todos os Ritos, com exceção do Francês, contêm graus de inspiração cavaleiresca templária a partir do 9º grau. A nível da Maçonaria não temos conhecimento de que este projecto iniciático seja cumprido a não ser que o segredo esteja incomunicável e para além da pompa e circunstância das cerimônias. Segundo informa José Manuel Anes só o Regime Escocês Rectificado possuiu hoje um Templarismo iniciático baseado numa doutrina cristã gnóstica, de que parece ter feito parte o nosso Irmão Gomes Freire de Andrade e provavelmente o que levou o rei D. Fernando a candidatar-se, tendo sido derrotado, a Grão-mestre da nossa Augusta Ordem.
O Templarismo está mais explícito a partir do grau 18 no Rito Escocês Antigo e Aceito e nas Ordens de Aperfeiçoamento de York, especificamente o grau de Arco Real e de Cavaleiro Templário.O que me leva a supor que, entre 1910 e 1935, terá havido algum círculo restrito que manteve viva esta tradição iniciática Templária com a qual Pessoa teve alguma relação. Isto explicaria o circuito iniciático e o Templo da Quinta da Regaleira, não restando pois qualquer dúvida sobre este filho da viúva nosso irmão."

VEJAMOS ALGUNS TRECHOS ATRIBUÍDOS A FERNANDO PESSOA:

(…) Iniciar alguém, no sentido hermético, é conferir-lhe conhecimentos que ele não poderia obter por si, quer pela leitura de livros, quer pelo exercício da sua inteligência, por forte que ela seja, quer pela leitura de livros à luz dessa mesma inteligência. (…)
(…) É essencial em primeiro lugar, que o profano seja, de índole e mentalidade, um simbolista, isto é, um indivíduo para quem os símbolos são coisas, vidas, almas e para quem paralelamente as coisas e os homens tenham, em certo modo, a vida irreal e analógica dos símbolos. (…)
(…) Aquilo a que se chama “Iniciação” é de três espécies: Há, primeiro, e no nível ínfimo, a Iniciação exotérica, análoga à Iniciação Maçónica, e de que esta é o tipo mais baixo: É a Iniciação dada a quem propriamente se não encaminhou para ela, nem para ela se preparou, e que serve para pôr o indivíduo em condições de poder dar-se o caminho exotérico de poder buscar, pelo contacto, embora exotérico, com símbolos e emblemas, o verdadeiro caminho. O mais exterior e nulo dos sistemas iniciáticos – como é hoje a Maçonaria – serve este fim, logo que tenha conservado os símbolos pelos quais em nós se infiltra o primeiro conhecimento do oculto. (…)
(…) A Maçonaria é um esquema simbólico, através de cuja linguagem, uma vez gradualmente compreendida, certos conhecimentos se vão obtendo, que fariam pasmar os Maçons vulgares, ainda os de alto grau. Ora os dirigentes superiores da Maçonaria forçosamente são aqueles que entendem e usam o que está contido nesses símbolos. E o que está contido nesses símbolos são os ensinamentos comuns à Cabala e ao chamado Budismo Esotérico. (…)
(…) O Templo de Salomão é a alma humana. A sua expressão interna e suprema. O Mestre Hiran, é morto pelos três assassínios. O Mundo (o desejo dos outros), a Carne (o desejo de si) e o Diabo (o desejo de mais que si) e é este último que dá ao Mestre na fronte o golpe mortal. A Grande Obra é o elaborar em nós no sentido estrito e pessoal, a transmutação do chumbo do nosso ser perecível no ouro do nosso ser que não parece. (…)
(…) São três os caminhos da Iniciação – pela emoção, pela vontade e pela inteligência (ou seja pelo enxofre, pelo sal, e pelo mercúrio). A Iniciação pela emoção adquire-se pela imersão em qualquer religião e pelo misticismo que haja nela. A Iniciação pela vontade adquire-se pertencendo a uma Ordem Iniciática qualquer, a Iniciação pela inteligência faz-se solitariamente, sem contacto fluido ou sólido com qualquer religião ou ordem, o único contacto é aquele, angélico com os Superiores Incógnitos. (…)
(…) A expressão “Vale” de que se usa para definir um lugar de instituições maçónicas é um acto de humildade e verdade, que a Ordem seguiu por indicação superior. É a definição da baixa qualidade da iniciação que ela ministra, em relação à alta iniciação nas altas Ordens onde é referida sempre uma montanha, seja a de Heredon seja a de Abiegno. Pode ser que estas coisas nunca houvessem sido combinadas em palavras, mas ficaram certas nos factos. (…)
(..) No último e excelso sentido a Loja é o Arcano ou a arca da Verdade. O Mestre e os Dois que estão com ele no governo da Loja são o símbolo das três verdades fundamentais ou Cabalísticas. Os Dois que, com estes três, formam os Cinco que completam a Loja são o símbolo dos princípios externos ou de relação, por meio dos quais a Verdade é o único que conta (…).
(…) Os últimos dois princípios pelos quais a Loja se torna perfeita são: O que está em cima é como o que está em baixo, e Quando o discípulo está pronto o Mestre está pronto também. (…)
(…) É impossível chegar a qualquer entendimento íntimo da Maçonaria sem ter conhecimento da chamada Ciência Hermética, que vai desde as especulações hiper-metafísicas da Cabala até às semi-metafísicas da Astrologia. Se um Maçon, por instruído que seja no que é pensamento maçónico e meditador que tenha sido da simbólica da sua Ordem, não tiver levado os seus estudos até aos vários ramos da Ciência Hermética – alguns dos quais sem relação alguma aparente com a Maçonaria – ficará perenemente um profano de dentro. (…)
(…) Creio na existência de mundos superiores ao nosso e de habitantes desses mundos, em experiências de diversos graus de espiritualidade, subtilizando-se até chegar a um Ente Supremo, que presumivelmente criou este mundo. Pode ser que haja outros Entes, igualmente Supremos, que hajam criados outros Universos, e que esses Universos coexistam com o nosso interpenetradamente ou não. Por essas razões, e ainda outras, a Ordem Externa do Ocultismo, ou seja, a Maçonaria, evita (exceto a Maçonaria anglo-saxónica) a expressão “Deus”, dadas as suas implicações teológicas e populares, e prefere dizer “Grande Arquitecto do Universo”, expressão que deixa em branco o problema se Ele é Criador, ou simples Governador do Mundo. Dadas estas escalas de seres, não creio na comunicação com Deus, mas, segundo a nossa afinação espiritual, podemos ir comunicando com seres cada vez mais altos. (…)

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